As primeiras transfusões de sangue com base em experimentos em animais remontam ao século XVII, mais precisamente em 1665, realizadas pelo médico britânico, Richard Lower, em Oxford.
Já as primeiras experiências com humanos têm registro em 1667, em Paris, com Jean Baptiste Denis, médico do rei Luis XIV. Ele utilizou um tubo de prata e injetou um copo de sangue de carneiro em Antoine Mauroy, 34 anos, um nobre que enlouquecido andava nu pelas ruas de Paris. Contudo, após resistir a duas transfusões, Mauroy viria a falecer, provavelmente em decorrência da terceira transfusão.
As transfusões da época eram heterólogas, ou seja, com sangue de animais de espécies diferentes. Denis defendia que, ao contrário do sangue humano, o de animais estaria menos contaminado de vícios e paixões. Porém, por ser considerada criminosa, a transfusão heteróloga foi proibida na Faculdade de Paris e, posteriormente, na de Roma (Itália) e na Royal Society, da Inglaterra.
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Mesmo proibidas, as experiências não foram de todo abandonadas. Em 1788 (Século XVIII), após tentativas fracassadas com transfusões heterólogas, Pontick e Landois obtiveram resultados positivos realizando transfusões homólogas (entre animais da mesma espécie), concluindo que elas poderiam ser benéficas e inclusive salvar vidas.
A primeira transfusão com sangue humano é atribuída a James Blundell, em 1818, que, após realizar com sucesso experiências em animais, transfundiu sangue humano em mulheres com hemorragia pós-parto.
Inúmeras tentativas foram praticadas para se atingir sucesso em transfusões. Mesmo sendo vista como um avanço, a transfusão homóloga apresentava problemas relacionados à coagulação do sangue e demais reações adversas. Chegou-se mesmo a tentar a utilização de leite e sangue de cadáveres em transfusões; sem sucesso. Em contrapartida, foram desenvolvidos equipamentos para a realização de transfusão indireta, além de técnicas cirúrgicas que permitissem a transfusão direta, com a utilização da artéria do doador e a veia do recptor, processo que passou a ser denominado “braço a braço”.
Foi no final do século XIX, em 1900, que o imunologista austríaco, Karl Landsteiner, constatou que o soro do sangue de uma pessoa muitas vezes coagula ao ser misturado com o de outra, o que culminaria numa das mais importantes descobertas, o sistema de grupo sanguíneo ABO.
O fator Rh foi descoberto em 1940, depois dos estudos de dois pesquisadores. Foi retirado o sangue de um macaco e injetado em cobaias. Após a pesquisa, foi concluído que, ao injetar o sangue do macaco, o organismo das cobaias reagia produzindo anticorpos, pois aquele sangue era uma substância desconhecida pelo organismo. Os anticorpos produzidos foram denominados de anti-Rh, pois no sangue do macaco havia um antígeno denominado fator Rh.
Cerca de 85% das pessoas possuem o factor Rh nas hemácias, sendo por isso chamados de Rh+ (Rh positivos). Os 15% restantes que não o possuem são chamados de Rh- (Rh negativos).
É importante conhecer o tipo sanguíneo em relação ao sistema Rh, pois também nesse caso podem ocorrer reações de incompatibilidade em transfusões de sangue.
Um indivíduo Rh negativo só deve receber transfusão de sangue Rh negativo. Caso receba sangue Rh positivo, ocorrerá a sensibilização e a formação de anticorpos Anti-Rh.
Vencida a questão da incompatibilidade, a batalha enfrentada a seguir foi desenvolver processos e métodos que aumentassem a vida útil do sangue, permitindo o seu armazenamento e a formação de estoques.
A descoberta das soluções anticoagulantes e conservantes, aliada ao desenvolvimento e aperfeiçoamento dos equipamentos de refrigeração, permitiu a organização dos centros de armazenamento de sangue.
Idealizado em Leningrado, em 1932, o primeiro banco de sangue surgiu em Barcelona, em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola. O conceito ganhou corpo e expandiu-se durante e após a Segunda Guerra Mundial.